Há algum
tempo, especialistas em comunicação têm discutido qual será o futuro do
jornalismo. Crises econômicas e leitores cada vez mais voltados para o digital
são alguns dos fatores que geram terríveis dúvidas sobre os rumos da profissão
e seus conteúdos. Entretanto, a internet não é apenas um vilão. Do ponto de
vista de alguns estudioso, é nela que habita a solução. Será mesmo?
O termo snowfall já é uma realidade. Atualmente,
refere-se a um formato de reportagem multimídia, que engloba textos longos, imagens
estáticas e em movimento, além de vídeos, hiperlinks e outras funcionalidades.
O nome é referencia à primeira grande reportagem deste tipo, elaborada pelo New
York Times e que contava, com riqueza de detalhes, a história de uma grande avalancha
de neve no estado de Washington, norte dos Estados Unidos, que matou três
atletas profissionais de snowboard. A
interação do leitor com o formato da reportagem – quem lê sente-se imerso no
conteúdo e consegue entender a história mesmo que pule algumas partes – transformou
o formato em um grande sucesso que, além de premiado, serviu de modelo para renomadas
empresas editoriais em todo o mundo.
No Brasil, empresas como a Zero Hora, Folha de São Paulo e
Uol são alguns exemplos de utilização deste modelo. A ZH chama suas grandes
reportagens de fôlego de especiais e, além de uma versão impressa, geralmente
nos finais de semana, disponibiliza o material em sua página numa aba exclusiva
para este tipo de conteúdo. A última grande matéria proposta pela ZH, trata dos
atendimentos e das vidas salvas pelo SAMU.
A tragédia de Mariana, em Minas Gerais, também não passou em branco e foi alvo
de inúmeras reportagens. A mais conhecida foi elaborada pelo G1, sob o título ‘A
vida após a lama’, e relatou a realidade de quem
perdeu tudo com o acidente. Em geral, utilizam-se plataformas como o Medium e o
Atavist, sites que suportam o uso de diferentes mídias colocando-as em completa
interação do conteúdo com o leitor e que podem ser utilizadas com acesso
gratuito. No entanto, grandes empresas contratam designers e diagramadores para
desenvolver seu próprio ambiente digital, oferecendo, em alguns casos, acesso
exclusivo aos seus assinantes.
Mas enquanto alguns acreditam tratar-se o formato snowfall o futuro do jornalismo, muitos
ainda o questionam. Entre as dúvidas que pairam no horizonte da comunicação
multimídia, o custo deste tipo de reportagem e a necessidade de tempo e
profissionais para a investigação da pauta são só as primeiras nuvens que
prenunciam a tempestade. A utilização excessiva de mídias e os textos muito
longos, em geral abordando ‘pautas frias’ também são questionados quando o
assunto é jornalismo. Especialistas como Mandy Brown debatem sobre o alcance
deste conteúdo e afirmam que jornalismo é ineditismo e novidade, e que por mais
que estes conteúdos sejam bem elaborados e escritos com uma intimidade
encantadora, elas merecem bem mais do que algumas horas de capa nos sites de
suas empresas. Mas em dois ou três dias acabam relegadas ao esquecimento, soterradas
sob as dezenas de títulos sobre política, economia ou celebridades.
Outra variável que precisa ser levada em conta quando o
assunto é jornalismo multimídia, é a possível mudança no uso da internet no
Brasil. Se o fim da internet ilimitada tornar-se uma realidade, as empresas
brasileiras de comunicação precisarão mais uma vez se adequar à novidade, já
que, certamente, os leitores pensarão duas vezes antes de acessar qualquer tipo
de conteúdo, especialmente aquele que venha a consumir grande quantidade de
dados da sua franquia.
A verdade é que quando o
assunto é o futuro do jornalismo pouco, ou quase nada, está definido. A
tecnologia oferece grandes e atrativas possibilidades, mas o que faz um
conteúdo tornar-se relevante e despertar o interesse dos leitores é a forma
como a matéria é escrita. E, creio eu, neste caso, a boa e velha apuração dos fatos,
a seriedade na escrita e a paixão do jornalista jamais serão substituídos por
qualquer ferramenta tecnológica.
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