Tá difícil, gente! Difícil mesmo ver o quanto as pessoas deixaram de ver e ouvir, cegas e surdas pelos próprios argumentos. Tá difícil ver, depois de tanto tempo de ausências, de tantas partidas, gente que fala em empatia sem se colocar no lugar do outro, que se acha mais digna, mais honesta, mais entendida, mais qualquer coisa que o outro e se esconde atrás da desculpa de ter personalidade forte, quando na verdade é apenas mal-educado. Tá difícil ver tanta gente fazendo juízo de valor sobre as dores (e escolhas) alheias, sem nunca ter vestido a pele do irmão. Tá difícil pra cacete enfrentar a vida quando ninguém quer abrir mão de nada e se acha dono da razão.
Tenho exercitado a empatia. Não essa
que é fala bonita e politicamente correta nas redes sociais. Tenho tentado na
essência. E em uma sociedade tão polarizada quanto a da atualidade, a cada novo
dilema, tenho aplicado a metáfora do rio. Me pergunto primeiro de que lado do
rio estou. Se estou do lado em que vejo o rio correr para a direita, me questiono
como é estar do outro lado, vendo o rio correr para a esquerda. Porque é
exatamente isso: uma questão de ponto de vista!
Diante de tal ambiguidade, me
pergunto: e se fosse eu? Se eu estivesse do lado de lá, no lugar do fulaninho
(a), o que eu faria? Qual seria a minha conduta? Quanto vale o sonho, o suor, o
trabalho do outro? De verdade, eu entendo os argumentos de quem está do lado de
lá, dos que estão do lado de cá e até mesmo dos que escolhem ser correnteza,
levando tudo por diante sem se preocupar com quem está nas margens. Empatia é
isso! Mas me pergunto de que adianta argumentar que o rio corre pra direita com
quem o está vendo correr pra esquerda (e só quer ver assim)? O inverso também
se aplica. Então, qual o propósito do tão clamado diálogo se nenhum dos lados
aceita ceder? Se por trás de cada fala, há pouco de ideologia e muito de
interesses pessoais/particulares? O fanatismo, seja político, religioso ou doutrinário,
nunca nos levou a lugar nenhum!
Em quantas oportunidades tivemos
a chance de ser ponte, fosse aproximando amigos, extinguindo fofocas ou apenas
ouvindo os argumentos alheios, e decidimos ignorar a chance e deixar o problema
crescer, até se tornar uma ruptura instransponível? Quantas vezes poderíamos
ter usado da diplomacia, mas, ao invés, preferimos as ofensas, os gritos e a grosseria?
Pela vaidade de estar certo? De apontar defeitos? Para ter a última palavra?
Tá difícil, gente! Cada vez mais! E enquanto eu acho cada vez mais difícil, vejo gente que eu admiro revelando uma imaturidade gigantesca. Vejo um monte de gente preferindo ter razão a ser feliz e nessas de toma lá dá cá, de olho por olho, vamos todos acabar cegos.