terça-feira, 6 de julho de 2021

Desabafo

Tá difícil, gente! Difícil mesmo ver o quanto as pessoas deixaram de ver e ouvir, cegas e surdas pelos próprios argumentos. Tá difícil ver, depois de tanto tempo de ausências, de tantas partidas, gente que fala em empatia sem se colocar no lugar do outro, que se acha mais digna, mais honesta, mais entendida, mais qualquer coisa que o outro e se esconde atrás da desculpa de ter personalidade forte, quando na verdade é apenas mal-educado. Tá difícil ver tanta gente fazendo juízo de valor sobre as dores (e escolhas) alheias, sem nunca ter vestido a pele do irmão. Tá difícil pra cacete enfrentar a vida quando ninguém quer abrir mão de nada e se acha dono da razão.

Tenho exercitado a empatia. Não essa que é fala bonita e politicamente correta nas redes sociais. Tenho tentado na essência. E em uma sociedade tão polarizada quanto a da atualidade, a cada novo dilema, tenho aplicado a metáfora do rio. Me pergunto primeiro de que lado do rio estou. Se estou do lado em que vejo o rio correr para a direita, me questiono como é estar do outro lado, vendo o rio correr para a esquerda. Porque é exatamente isso: uma questão de ponto de vista!

Diante de tal ambiguidade, me pergunto: e se fosse eu? Se eu estivesse do lado de lá, no lugar do fulaninho (a), o que eu faria? Qual seria a minha conduta? Quanto vale o sonho, o suor, o trabalho do outro? De verdade, eu entendo os argumentos de quem está do lado de lá, dos que estão do lado de cá e até mesmo dos que escolhem ser correnteza, levando tudo por diante sem se preocupar com quem está nas margens. Empatia é isso! Mas me pergunto de que adianta argumentar que o rio corre pra direita com quem o está vendo correr pra esquerda (e só quer ver assim)? O inverso também se aplica. Então, qual o propósito do tão clamado diálogo se nenhum dos lados aceita ceder? Se por trás de cada fala, há pouco de ideologia e muito de interesses pessoais/particulares? O fanatismo, seja político, religioso ou doutrinário, nunca nos levou a lugar nenhum!

Em quantas oportunidades tivemos a chance de ser ponte, fosse aproximando amigos, extinguindo fofocas ou apenas ouvindo os argumentos alheios, e decidimos ignorar a chance e deixar o problema crescer, até se tornar uma ruptura instransponível? Quantas vezes poderíamos ter usado da diplomacia, mas, ao invés, preferimos as ofensas, os gritos e a grosseria? Pela vaidade de estar certo? De apontar defeitos? Para ter a última palavra?

Tá difícil, gente! Cada vez mais! E enquanto eu acho cada vez mais difícil, vejo gente que eu admiro revelando uma imaturidade gigantesca. Vejo um monte de gente preferindo ter razão a ser feliz e nessas de toma lá dá cá, de olho por olho, vamos todos acabar cegos.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Ser feliz ou ter razão?

Talvez eu já tenha escrito sobre esse tema - olhando agora e fazendo um retrospecto deste blog percebi que já escrevi muito mais do que me lembrava – mas ainda assim vale a reflexão. Nos últimos dois ou três anos, comecei a encarar algumas situações com um olhar mais crítico, reflexos da maturidade, creio eu, e, talvez por isso, eu tenha ficado tanto tempo sem publicar aqui (isso e a conclusão da faculdade, o início de uma pós, a criação de uma empresa e o trabalho constante associados ao início de uma pandemia, uma conta na Netflix, outra na Amazon Prime e, mais recentemente, uma assinatura da Disney Plus).

Mas a verdade é que tenho preferido ser feliz a ter razão, e só isso já é motivo suficiente para guardar minhas opiniões apenas pra mim – e, às vezes, para os amigos mais chegados.

Acho que a pandemia tem um ‘tiquinho’ de culpa nessa decisão, especialmente porque acabo tendo mais tempo – e cada vez menos vontade – de usar as redes sociais. Sério, gente, nos últimos tempos está difícil ser feliz e ter razão concomitantemente. Não sei se as pessoas estão inquietas por causa do distanciamento social, ou se a fantástica vida maravilhosa compartilhada nas redes tem provocado insatisfações, mas a verdade é que quase toda postagem vira motivo de ressentimento.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Boas músicas x Bons Ouvintes - Tudo é questão de escolha

     Eu não preciso gostar do que todo mundo gosta, nem do que mídia me apresenta. Minha mãe já dizia que eu ‘não sou todo mundo’. Ela me ensinou que caráter e personalidade são características que posso desenvolver. Bem, mãe, eu desenvolvi.

     Mesmo sem raízes profundas no tradicionalismo, desde os 12 anos – quando fui ao primeiro fandango da minha vida como acompanhante de uma prima – me apaixonei pela cultura gaúcha e seus elementos. Não vou entrar aqui no mérito do tradicionalismo como instituição. Me refiro à tradição em sua origem, o gosto pela pilcha, pelo mate, pelo churrasco e a conversa franca e honesta ao pé do fogo de chão. Desde então, minhas preferências musicais, literárias, artísticas e culturais têm se referenciado nessa fonte. Leio de tudo, me interesso por tudo, ouço de (quase!) tudo.

     Por que o quase? Tenho visto nas redes um bando de gente que reclama da música ‘imposta’ pela mídia – eles falam em especial da Globo, que projeta nomes como Anitta, Pablo Vittar e Jojo Todynho (???) (Eu nunca tinha ouvido falar dela e ainda não sei qual é a sua música ‘famosa’. Me esclareçam, por favor.). No entanto, grande parte dos reclamantes são os mesmos que, quando estão na balada dançam até o chão quando toca esse tipo de música.

     Que fique claro que não estou criticando quem gosta. Cada um tem o direito de gostar do que quiser, assim como eu tenho direito de desligar o rádio quando toca qualquer coisa que me desagrade. A função dessa publicação não é fazer juízo de valor sobre a música ou qualquer tipo de arte, é declarar o direito de não ouvir (ou ouvir, se for o caso!).

     A mídia oferece aquilo que o seu público consome. Anitta está no topo das paradas, não porque aparece seminua na TV (ou sim?), mas porque tem quem ouça (e muito!) suas músicas, acesse seus clipes e os compartilhe e promova nas redes sociais. Em suma: lei da oferta e da procura! É claro que quanto mais oferta, maior o número de consumidores.

     Ontem, 08/02, músicos gaúchos se reuniram na sede do MTG para discutir o futuro da música regional. E entre as constatações, eles se deram conta de quanta energia desperdiçam (e nós, consumidores, também!) debatendo se a música que vem de fora é boa ou ruim (Isso também serve pro BBB. Não gosta, desliga a TV ou troca o canal), ao invés de nos dedicarmos a promover o que é nosso e agregar novos consumidores ao que produzimos.

     Temos aqui no Rio Grande do Sul, uma produção invejável de boas músicas, talentos incontestáveis do cancioneiro regional, grupos que se dedicam a preservar a tradição, mas, apesar de tudo, nossa música se restringe às nossas fronteiras. O problema é nossa mente de colonizado, que continua nos impondo a visão de que a grama do vizinho é mais verde e que a música importada é melhor. Ledo engano!

     Fazendo um paralelo ao chimarrão (que também não sai daqui!), sempre afirmo nas palestras que o mundo não toma chimarrão porque o gaúcho não conhece seus benefícios e propriedades. Importamos chá verde, um dos mais consumidos do planeta, porque faz bem para saúde, mas desconhecemos o que o chimarrão nos proporciona (é considerado o chá mais completo do qual se tem conhecimento) além do hábito.

     O chimarrão existe há mais de 500 anos, foi utilizado pelos índios guaranis desde muito antes do descobrimento do Brasil, enquanto o café é consumido há uns 300. Mas o mundo consome café. Por quê? Porque enquanto os produtores de erva-mate se digladiam pelo mercado interno, os cafeicultores convencem seus consumidores que bom mesmo é tomar café!  O mesmo serve para música gaúcha. Enquanto nos atermos a discutir a grenalização musical: se a minha é melhor que a tua - continuaremos chimarrão. E penso que já passou da hora de nos tornamos café – doce, forte, atraente e comercialmente viável.

     Entretanto, do meu ponto de vista (olha eu aqui de novo!) essa mudança começa em mim. Temos que parar com essa ideia de que em casa de ferreiro o melhor espeto é o de pau. Temos que parar de criticar (e assistir) Pablos, Anittas e Todynhos (Crítica também da IBOPE!!) e começar a valorizar Alexandres, Jocas e Fernandos. Somente consumindo o que os nossos músicos produzem é que fortaleceremos o mercado fonográfico do Rio Grande do Sul. E não me venham com esse mimimi de que as letras são difíceis e os ritmos são repetitivos. Hoje, temos músicas e artistas para todos os gostos.


     Quer saber? Tem mercado para todo mundo e, graças a Deus, a internet tá aí pra nos libertar! Ao contrário do que muitos pensam, a gauchada é esclarecida e sabe usar perfeitamente o Spotify, Youtube, Soundcloud e todas as outras plataformas disponíveis. Então, bora reclamar menos e ouvir mais do que nos enche o coração e faz bem para alma? Eu escuto música gaúcha, e você?!


quinta-feira, 26 de maio de 2016

O relevante futuro do jornalismo e o jornalismo do futuro

Há algum tempo, especialistas em comunicação têm discutido qual será o futuro do jornalismo. Crises econômicas e leitores cada vez mais voltados para o digital são alguns dos fatores que geram terríveis dúvidas sobre os rumos da profissão e seus conteúdos. Entretanto, a internet não é apenas um vilão. Do ponto de vista de alguns estudioso, é nela que habita a solução. Será mesmo?

O termo snowfall já é uma realidade. Atualmente, refere-se a um formato de reportagem multimídia, que engloba textos longos, imagens estáticas e em movimento, além de vídeos, hiperlinks e outras funcionalidades. O nome é referencia à primeira grande reportagem deste tipo, elaborada pelo New York Times e que contava, com riqueza de detalhes, a história de uma grande avalancha de neve no estado de Washington, norte dos Estados Unidos, que matou três atletas profissionais de snowboard. A interação do leitor com o formato da reportagem – quem lê sente-se imerso no conteúdo e consegue entender a história mesmo que pule algumas partes – transformou o formato em um grande sucesso que, além de premiado, serviu de modelo para renomadas empresas editoriais em todo o mundo.

No Brasil, empresas como a Zero Hora, Folha de São Paulo e Uol são alguns exemplos de utilização deste modelo. A ZH chama suas grandes reportagens de fôlego de especiais e, além de uma versão impressa, geralmente nos finais de semana, disponibiliza o material em sua página numa aba exclusiva para este tipo de conteúdo. A última grande matéria proposta pela ZH, trata dos atendimentos e das vidas salvas pelo SAMU. A tragédia de Mariana, em Minas Gerais, também não passou em branco e foi alvo de inúmeras reportagens. A mais conhecida foi elaborada pelo G1, sob o título ‘A vida após a lama’, e relatou a realidade de quem perdeu tudo com o acidente. Em geral, utilizam-se plataformas como o Medium e o Atavist, sites que suportam o uso de diferentes mídias colocando-as em completa interação do conteúdo com o leitor e que podem ser utilizadas com acesso gratuito. No entanto, grandes empresas contratam designers e diagramadores para desenvolver seu próprio ambiente digital, oferecendo, em alguns casos, acesso exclusivo aos seus assinantes.

Mas enquanto alguns acreditam tratar-se o formato snowfall o futuro do jornalismo, muitos ainda o questionam. Entre as dúvidas que pairam no horizonte da comunicação multimídia, o custo deste tipo de reportagem e a necessidade de tempo e profissionais para a investigação da pauta são só as primeiras nuvens que prenunciam a tempestade. A utilização excessiva de mídias e os textos muito longos, em geral abordando ‘pautas frias’ também são questionados quando o assunto é jornalismo. Especialistas como Mandy Brown debatem sobre o alcance deste conteúdo e afirmam que jornalismo é ineditismo e novidade, e que por mais que estes conteúdos sejam bem elaborados e escritos com uma intimidade encantadora, elas merecem bem mais do que algumas horas de capa nos sites de suas empresas. Mas em dois ou três dias acabam relegadas ao esquecimento, soterradas sob as dezenas de títulos sobre política, economia ou celebridades.

Outra variável que precisa ser levada em conta quando o assunto é jornalismo multimídia, é a possível mudança no uso da internet no Brasil. Se o fim da internet ilimitada tornar-se uma realidade, as empresas brasileiras de comunicação precisarão mais uma vez se adequar à novidade, já que, certamente, os leitores pensarão duas vezes antes de acessar qualquer tipo de conteúdo, especialmente aquele que venha a consumir grande quantidade de dados da sua franquia.


A verdade é que quando o assunto é o futuro do jornalismo pouco, ou quase nada, está definido. A tecnologia oferece grandes e atrativas possibilidades, mas o que faz um conteúdo tornar-se relevante e despertar o interesse dos leitores é a forma como a matéria é escrita. E, creio eu, neste caso, a boa e velha apuração dos fatos, a seriedade na escrita e a paixão do jornalista jamais serão substituídos por qualquer ferramenta tecnológica.

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quarta-feira, 4 de maio de 2016

O retorno

Ok! Ok! Eu já fui xingada o suficiente pelos pares aqui de casa por ter abandonado as postagens do blog. Eles insistem que sei escrever, eu discordo. Isso porque, em geral, se acredita que escrever é um processo de iluminação divina que cai do céu sobre nossas cabeças e nos inspira inexplicavelmente. Mentira! Se fosse assim, seríamos todos gênios! Na verdade, tudo é treino. Até a criação.

Estimular o cérebro nos faz criar mais e melhor. É claro que precisamos de referências e embasamento, mas sair da zona de conforto - e preguiça - já é 50%. Enfim, voltemos ao blog. Poderia dizer que parei de escrever porque me faltava tempo, porque estava ocupada, porque a faculdade estava me sugando, porque tinha muito trabalho, mas a verdade - nua e crua - é que me rendi ao ócio. É muito mais fácil, depois de um dia complicado, me atirar no sofá e deixar o cérebro em repouso. Comer um chocolate, tomar um vinho e proporcionar um pouquinho - só um pouquinho - de prazer pro corpitcho, não é?

No fundo, acho que a minha ausência vai além. Parei de escrever porque considero que as minhas filosofias de botequim são desnecessárias na rede. Já tem tanta porcaria escrita por aí que, no fim das contas, era melhor parar antes de lotar a internet de bobagens. Mas aí, depois de muitos pedidos - no caso dois, porque aqui em casa são apenas 3 pessoas - percebi que a criação, assim como a leitura é livre, então voltei a escrever - é mais forte do que eu! - mesmo que pouca gente - ou ninguém - leia. 

No entanto, penso em variar os temas. Usar um pouco do que tenho aprendido nos bancos escolares para colocar em pauta a diversidade de assuntos que pulsam nessa sociedade louca em que vivemos. Que fique claro. Ninguém precisa concordar comigo e nem ler as postagens se não quiser. Mas, se chegar ao final do post, respeite a minha opinião, assim como eu respeito a tua. Mesmo que não concorde. Se for contrapor, use argumentos e não xingamentos. Apesar de ambas as palavras terminarem em "mentos" a primeira pode convencer e mudar conceitos.

Também deixo claro que meu objetivo aqui é divulgar boas ideias, bons trabalhos e grandes iniciativas. Fazer um mundo melhor parte de cada um. Um dos temas que seguidamente será abordado aqui, é a educação. Outro, a diversidade - aceite ou deixe-me! Outro ainda, a inclusão e tudo que andar de mãos dadas com o que faz bem pra alma. Se tiver sugestões de tem, me manda. Compartilhar é crescer junto!

Partindo deste princípio, encontrei uma matéria muito bacana sobre a desconstrução da educação e de uma postura mais humana por parte dos professores que compartilho aqui como o exemplo da mudança que se faz necessária. Na vida, estamos sempre em processo de aprendizagem e a educação real é a única ferramenta que possibilitará um futuro melhor!

Estamos de volta! Baita beijo e boa semana!

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Tudo por um sonho

Jovens abdicam de vida social para participar do maior festival de dança amadora da América Latina

Por: Liliane Pappen    

        Fim de noite e, enquanto milhares de jovens saem das faculdades da capital com destino as suas casas, outros tantos seguem um caminho diferente: O CTG.

       São 23 horas e 12 pares se preparam para mais um ensaio. O objetivo é conquistar a classificação para a grande final do ENART – Encontro de Arte e Tradição – que acontece anualmente em Santa Cruz do Sul, no centro do estado, em meados de novembro.

       Na construção deste sonho, os dançarinos do DTG – Departamento de Tradições Gaúchas – Lenço Colorado abrem mão de momentos em família, de compromissos sociais, dos amigos e, em alguns casos, até mesmo dos relacionamentos.

       Reunidos no centro do palco, os jovens traçam metas e sonham com o domingo da final. Foram muitos desafios. A primeira etapa foi vencida com suor e lágrimas na fase regional. Na inter-regional, ocorrida no último final de semana em Venâncio Aires, a disputa foi ainda mais acirrada. “Dançamos com outros 22 grupos que almejavam essa vaga, somente 10 passaram. Em cada fase precisamos fazer nosso melhor. Esse é o nosso espírito colorado. Quando ninguém mais acredita, vamos lá e colocamos nossa alma e coração”, afirmou o instrutor da invernada, Rinaldo Souto.

       Começa o ensaio. No galpão, localizado junto ao Parque Gigante do Sport Club Internacional, o tablado ecoa os sapateios e sarandeios dos dançarinos enquanto o grupo musical canta o levante – introdução da dança - de uma tirana. Antes das 2 horas da manhã, ninguém descansa.




Temática da apresentação

       Em cada edição do festival, um novo espetáculo temático é apresentado. Em 2013, uma das coreografias mais marcantes do DTG Lenço Colorado foi encenada. O grupo abordou o viés histórico das “mulheres guerreiras”. Estancieiras, criadas e escravas que, pela necessidade da guerra, aprenderam a empunhar armas na defesa de seu lar, enquanto os homens lutavam no decênio farroupilha.



       Com o passaporte carimbado para a semifinal, o grupo já trabalha na construção de um novo tema, mantido em segredo até a pré-estreia. “Já estamos com a pesquisa em mãos e esse ano pretendemos inovar. Vamos promover “spoilers” usando as redes sociais. Uma dica aqui, outra lá e os fãs do Lenço vão construir nosso enredo ainda antes de estrearmos”, contou Franciele Guterres Santin Haubold, coordenadora da invernada adulta.

       Assim como o contexto da coreografia, os trajes típicos também sofrem uma minuciosa pesquisa e retratam a época e a classe social que os dançarinos representam. Conforme Rinaldo, nenhum elemento é inserido na coreografia ou indumentária ao acaso. “Tudo precisa ser estudado para que não haja descontos na hora da apresentação. O tipo de tecido, as cores, os acessórios, a pilcha da prenda e do peão precisam ser condizentes com o que estamos coreografando na pista. Por isso, uma extensa pesquisa sobre o tema e os trajes é entregue à comissão avaliadora”, relatou o instrutor.

       O investimento financeiro também é alto. De acordo com Liliane Poitevin Sales, agregada das pilchas – responsável pelas finanças do grupo – cada traje pode custar mais de mil reais. “Nosso grupo se caracteriza pelo perfil de estancieiros. Em nossas coreografias resgatamos a história da nobreza gaúcha, por isso, nossas pilchas usam tecidos finos e muitos acessórios, o que acaba onerando o preço final”, disse a agregada. A composição dos figurinos conta com vestidos, sapatilhas, anáguas – saia de armação, joias, botas, casacos, lenços, palas, ceroulas de crivo e bragas – espécie de calção de veludo até a altura dos joelhos e usado sobre as ceroulas que deixam os crivos (bordados) à mostra – elaborados conforme a temática da apresentação, mas com um detalhe: assim como a coreografia, os trajes não serão repetidos no ano seguinte.

Tradição em família

       Abre a gaita e já nos primeiros acordes a pequena Bibiana Hikari Andrade Niiho, prenda mini-mirim da entidade, abre a saia rodada e começa a sarandear. Ela tem apenas 5 anos e cresceu dentro do galpão. A mãe Laurelisa Andrade e o pai Kazuhico Niiho, dançavam na invernada até 2014. Hoje, a pequena acompanha a dinda Carlisa Andrade, que apesar da ruptura em um tendão do pé direito por causa da dança, só aguarda a liberação do médico para voltar ao tablado.



       O tradicionalismo está no sangue e no nome. Apesar da origem oriental – o pai é descendente de japoneses – a menina foi batizada de Bibiana, referência à personagem do livro “O tempo e o Vento” de Érico Veríssimo. Apaixonada pelas danças, Bibiana conhece, uma a uma, as coreografias do grupo e imita, do lado de fora do tablado, os passos das dançarinas.

Vestida de prenda com um dos modelos da invernada, especialmente feito para ela, e ostentando a faixa de Bonequinha do DTG, Mirella de Oliveira Souza, de apenas 3 anos, acompanha a mãe nos ensaios. Filha de Cristina de Oliveira Gonçalves, que participa do grupo desde 2004, e Leandro Souza, a menina praticamente nasceu no Lenço Colorado.

       Outro caso de tradição em família é o da pequena Giovanna Laroca Melo do Nascimento, de 5 meses.  Os pais, Gisele Laroca da Silva e Dobrasil Renato Melo do Nascimeto não dançam, mas como patrões da entidade, acompanham todos os ensaios. “É bonito de ver. Temos várias crianças que vem com os pais nos ensaios e a Giovanna adora. Basta começar a música e ela já bate as mãozinhas”, contou a mãe.

       Liliane vai além na sua relação com a invernada. Ela conta que os filhos não dançam mais, mas mesmo assim, continua trabalhando em prol do grupo. “Sinto como se eu tivesse uma missão junto ao Lenço e a esses jovens. Quando eu cheguei, eles eram todos adolescentes. Hoje são adultos, cada um com sua vida, mas com um sonho em comum. Um sonho que eu sonho com eles a cada ano. Não é fácil. Temos imensas dificuldades financeiras e pessoais, brigamos, discutimos e nos arrependemos, mas o bom de estar aqui é que, juntos, formamos uma família. A família Lenço Colorado”.

Um amor para toda a vida

Juciandro de Oliveira, 42 anos, é casado com Fabiana Grassi, a quem conheceu dançando em invernada e com quem divide os tablados nos rodeios e festivais. O vendedor, que dança há mais de 25 anos, já passou por CTGs como o extinto Estância Farroupilha, pelo CTG Lanceiros da Zona Sul e hoje, aposta no Departamento de Tradições Gaúchas do Sport Club Internacional, o Lenço Colorado.

Depois de um quarto de século de dedicação à dança, Juciandro e Fabiana decidiram que era chegado o momento de largar o grupo. Ensaios longos que adentravam as madrugadas, compromissos profissionais e principalmente pouco tempo para o filho foram fatores determinantes na decisão. Mesmo quando o pequeno Gustavo, 10 anos, os acompanhava nos ensaios e rodeios, faltava o momento lúdico das brincadeiras. Percebiam a infância do filho de esvaindo nas veias do tempo sem aproveitá-la. Decisão tomada, comunicaram os demais integrantes da invernada que estavam se “aposentando”.

Entretanto, a coceira nos pés não deixou o casal sossegado. Pouco mais de um mês depois da saída, resolveram, por curiosidade, assistir a um dos ensaios de preparação para a inter-regional. A paixão falou mais alto. O coração bateu mais forte e como sempre, unidos, decidiram retornar.  “Não resistimos. Isso é uma cachaça, vicia. Vi o grupo e pensei... Vou dançar só mais esse ENART”, conta Juciandro. De “só mais esse”, Juciandro e Fabiana seguem colocando nas apresentações, toda a experiência e amor pela dança gaúcha, acumulados ao longo de quase uma vida.

Classificados para a grande final em Santa Cruz do Sul, Juciandro e Fabi são só sorrisos. Unidos em todos os momentos, de crise ou alegria, o casal comemora a conquista e afirma que para a felicidade ser completa só falta ficar entre os 5. “Daí, danço mais uns 5 ENART’s”, afirmou Juciandro. O DTG Lenço Colorado torce por isso!


GALERIA DE FOTOS

Novo tema já está sendo preparado para os 30 anos do ENART  - Foto: Deivis Bueno




Final do Enart acontece entre os dias 20 e 22 de novembro, em Santa Cruz do Sul

Ser gaúcho vai além da descendência, é um estado de espírito

Reunido, grupo traça estratégias para chegar à final

Perfil Lenço Colorado: Peões representam estancieiros da côrte gaúcha

Musical desempenha papel fundamental na hora do espetáculo

Três danças tradicionais são sorteadas poucos minutos antes da apresentação

Nos ensaios, filhos acompanham os pais e aprendem os primeiros passos de dança

Objetivo do grupo é ficar entre os 5 melhores do estado. - Foto: Deivis Bueno

Coreografia resgatou recortes da história da Revolução Farroupilha - Foto: Deivis Bueno









quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

" A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional" (Tim Hansel)

Ser humano é um bicho engraçado. Naturalmente insatisfeito. Se chove, quer sol, se faz sol reclama da falta de água, se tá calor, ama o inverno, se tá frio, posta a saudade do verão. Haja psicologia pra entender tanta insatisfação.

Isso sem contar a supervalorização dos problemas, as eternas reclamações de “por que isso acontece comigo”?, ou “o que foi que eu fiz pra merecer”?

A verdade, é que nada acontece por acaso. Poderia usar aqui, uma série de chavões sobre plantar e colher, causa e efeito, ação e reação, mas a verdade é que tudo acontece por algum motivo.

Hoje não foi um dia bom. E daí? Se lamentar melhora o dia? Resolve o problema? Ficar irritado facilita as coisas? Não!!! Ficar irritado só piora tudo. Se vitimizar também. Sentir-se injustiçado pelo destino, pela vida, pelo mundo, dificulta ainda mais.

Então, ao invés de ficar se “coitadando” nas redes sociais e whattsapp, acorda e agradece. Aprende a pedir menos e agradecer mais. Agradece pelo corpo perfeito quando tantos são mutilados, pelo teto que te abriga quando tantos dormem na rua, agradece os amigos, a família, a oportunidade de evolução que todos os dias Deus nos dá como presente.

E na pior das hipóteses, quando alguma coisa ruim acontecer, agradece também, porque até um tropeço no caminho, te ajuda a andar pra frente.


Chico Xavier, com sua grande sabedoria, disse certa vez: “Chora-se muito pelo pouco que nos falta e ri-se pouco pelo muito que temos”. Ele tem razão, afinal, A gratidão acolhe mais bençãos do que o pedido! Eu acredito!


Quem sou eu

Minha foto
Indefinível mulher, com tantas fases quanto a lua. Um tanto louca, um pouco santa, apaixonada e determinada em conquistar o que mereço. Amante da escrita, valorizo os detalhes, todos, mesmo os mais insignificantes. Chorona, me emociono até com comerciais. Acredito que a verdadeira beleza está na simplicidade. E sou assim, despida de vaidades efêmeras, sem nunca abandonar um bom perfume e a maquiagem. No mais, descubra-me, pois ainda estou no caminho da minha identidade.